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Defeitos em
Películas de
Tintas
Um
dos principais problemas encontrados pela maioria dos formuladores de tintas é
corrigir defeitos das películas,
tais como formação
de crateras,
"blushing" e escorrimento.
No entanto isto é
essencial para assegurar as funções
de embelezar e proteger o substrato pintado. A fim de resolver eficazmente os
problemas nos filmes o tipo de defeito deve ser identificado e suas causas
devem ser estabelecidas. Conheça
a seguir,
alguns problemas nas superfícies
pintadas e como eliminá-los.
l.
Inclusões de ar
Bolhas de ar ocluídas na película podem ser
liberadas sem maiores conseqüências se a viscosidade do filme for
suficientemente baixa e a película permanecer fluida durante tempo suficiente.
Entretanto, evaporação rápida dos solventes, cura rápida ou viscosidade
inicial muito elevada, impedem a liberação do ar e fazem com que as bolhas
permaneçam no interior do revestimento. Além do uso de solventes menos voláteis,
que deixem o filme aberto durante um tempo maior de modo a permitir a liberação
das bolhas, agentes anti-espumantes
e quebradores de bolhas (“antifoams” e
“defoamers”), tais como os
silicones, podem desestabilizá-las pela quebra da tensão superficial e
promover a sua coalescência e liberação.
2. Células de Bénard
As “Células de Bénard” são células hexagonais,
com centros bem definidos, produzidas por padrões de circulação turbilhonar
induzidos pela evaporação dos solventes em películas delgadas. Em filmes
espessos (vários milímetros ou mais), as “Células de Bénard” são
causadas pela circulação de convecção devido à gravidade. Em filmes de
espessuras típicas (10 a 100 micra), elas são provocadas por gradientes de
tensão superficial resultantes da temperatura ou concentração. Em filmes de
espessura intermediária, tanto a gravidade como os gradientes de tensão
superficial podem atuar como agentes causadores das “Células de Bénard”.
Estudos experimentais demonstraram que as “Células de Bénard” podem
ser eliminadas pela diminuição da espessura da camada aplicada, pelo aumento
da viscosidade do revestimento e/ou pela minimização dos gradientes de tensão
superficial através da superfície da película.
Às vezes, por exemplo, a substituição de uma melamina por outra butilada,
é um modo de reduzir a atividade das “Células de Bénard”; contudo o método
mais eficaz ainda é o uso de aditivos
de silicone.
3. Eflorescência
("blooming")
A eflorescência é o aparecimento de um depósito
turvo de material oleoso ou ceroso sobre a superfície pintada, que prejudica o
acabamento pela diminuição do brilho ou pelo aspecto irregular e não
uniforme. A causa do defeito pode ser a migração de algum óleo, plastificante
ou componente não reticulado. O remédio para este defeito requer, geralmente,
a eliminação na fórmula do material que migra. O aspecto mais difícil na
solução de problemas de eflorescência é a identificação da substância
migrante e a determinação de sua origem na fórmula do revestimento. Fontes
comuns de eflorescência são constituintes de baixo peso molecular das resinas,
plastificantes com solubilidade marginal, ou outros aditivos, ceras e
lubrificantes.
4.
Névoa ("blushing")
A névoa é um
esbranquiçamento da que ocorre quando o revestimento é aplicado sob
condições de elevada umidade relativa. É observada com maior freqüência
quando a tinta é aplicada a revólver. A névoa pode ser eliminada pela diminuição
da umidade relativa e/ou diminuição da taxa de evaporação do solvente.
Solventes rápidos com elevados calores latentes de evaporação devem ser
eliminados da formulação. Este problema é especialmente importante no caso de
lacas, mas pode surgir, também, em esmaltes à estufa. No caso de lacas é mais
crítica a formulação da mistura de solventes que assegure o equilíbrio
adequado.
5. Relevo irregular
Regiões mais elevadas e depressões numa superfície
pintada são causadas por fluxos indesejáveis que ocorrem durante a cura depois
do nivelamento inicial da película. Originam-se de gradientes de tensão
superficial que se formam durante a cura e que provocam uma baixa fluidez
(“flow-out”). O resultado é uma superfície irregular, de aspecto rugoso,
pouco brilho e áreas pouco espessas nas depressões e portanto, menor proteção
ao substrato. A solução é prevenir ou reduzir os gradientes de tensão
superficial pela adição de oligômeros tensoativos (tais como aditivos de
silicone) ou de resinas e/ou aumentar a viscosidade pelo uso de agentes reológicos,
etc.. O ataque duplo, como o uso simultâneo de aditivos de silicone e de
agentes tixotrópicos é muitas vezes o melhor.
6.
Crateras
Crateras são pequenas depressões semi-esféricas
numa película. Estas depressões possuem, freqüentemente, gotas ou bandas de
material no centro e bordas circulares mais altas. As causas mais comuns das
crateras são bolhas não colapsadas, "overspray", partículas de gel
de resinas e contaminação do substrato com: sujeira, fibras, auxiliares de
filtração, gotículas de silicone não dissolvido ou de óleo (da linha de ar
comprimido ou dos equipamentos). As
crateras podem ser eliminadas freqüentemente com cuidados na fabricação e na
aplicação da tinta. A diluição cuidadosa da tinta e da resina com solventes
e diluentes pode evitar a formação de partículas de géis. Cuidados na
limpeza, no bombeamento e na transferência da tinta e das resinas durante a
fabricação impedem a precipitação devida a incompatibilidades entre os
materiais nas tubulações. A manutenção dos filtros e a filtração adequada
podem eliminar géis de resinas, aglomerados de pigmentos, fibras, etc. do
produto acabado. O uso de separadores de óleo e filtros nas linhas de ar
comprimido, bem como a manutenção periódica, podem reduzir a incidência da
contaminação durante a aplicação a revólver. A ventilação adequada e o
controle do ar podem reduzir o "overspray" e as poeiras.
7.
Rastejamento e retração ("Crawling" e "dewetting")
Durante a aplicação do revestimento, as forças de
cisalhamento e da gravidade são geralmente suficientes para espalhar a tinta
completamente sobre a superfície do substrato. Entretanto, durante ou logo após
a aplicação, pode-se observar uma retração da tinta. Se isto ocorrer em áreas
maiores, ou nas bordas de um painel ou peça pintada, este fenômeno recebe o
nome de rastejamento ("crawling"). A retração também pode causar
uma reaglomeração da tinta em forma de gotas, crateras, ilhotas ou pequenos
furos ("pinholes"). Este
comportamento é devido à umectação (molhagem) insuficiente do substrato pela
tinta; neste caso os aditivos silicones que são excelentes agentes umectantes
podem solucionar.
8. Bordas espessas e emolduramento ("picture
framing")
Um defeito comum dos revestimentos é o aparecimento
de bordas espessas ou emolduramento ao longo das margens de um painel ou parte
metálica. Bordas espessas são freqüentes em aplicação por imersão ou
tamboreamento, mas o fenômeno pode ocorrer com outros métodos de aplicação,
como pulverização, aplicação por rolos e até mesmo eletrodeposição. No
caso de aplicação por imersão e "'flow coating", a tinta pode
formar uma camada mais espessa na
parte inferior das peças pintadas. O remédio envolve a remoção do excesso de
tinta pelo gotejamento durante um período mais longo (no caso de "'flow
coating"), pela diminuição da viscosidade da tinta ou pelo uso de forças
eletrostáticas e centrífugas para remover o excesso de material. Algumas vezes
o aumento de camada é devido ao escorrimento. Se este for o caso, o uso de
solventes mais rápidos ou de aditivos tixotrópicos pode ser eficaz na redução
da tendência ao escorrimento.
9. “Olhos de peixe”
“Olhos de peixe” são crateras que se caracterizam
por um centro formado por uma zona uniforme de pintura, cercado por uma depressão
seguida de uma borda de tinta. São causados por glóbulos fluidos não
dispersos ou por gotículas em suspensão no ar, depositadas sobre a superfície
da tinta. Gotículas de óleo e anti-espumante são grandes causadores de olhos
de peixe. Muitas vezes os defeitos desaparecem com o "envelhecimento da
tinta", devido à lenta dissolução do material causador do problema. A
filtração pode ajudar algumas vezes, se for usado um filtro absorvente ou um
auxiliar de filtração. O remédio mais eficaz é determinar a origem dos olhos
de peixe e remover da fórmula ou do ambiente o material causador; o uso de
aditivo de silicone adequado pode solucionar a maioria dos casos.
10. Flutuação ("Floating")
O termo "floating" é empregado para
descrever um aspecto manchado ou raiado de uma película de tinta. O
"floating" é devido à separação e distribuição irregular dos
diferentes pigmentos na tinta. O defeito é geralmente causado por movimentos de
circulação das células de Bénard e pode ser visto como a conseqüência
colorida da formação de células. Os remédios são os mesmos que para as células
de Bénard.
11. "Flooding"
O "flooding"
é caracterizado por uma mudança
uniforme de cor numa película úmida depois da aplicação. É causado pelo
aumento da concentração de um ou mais pigmentos na superfície da película de
tinta. A separação ocorre como resultado de velocidades de sedimentação
diferentes, devido às diferenças de densidade, tamanho de partícula e grau de
floculação dos pigmentos. O remédio é promover
um aumento de viscosidade pelo uso de agentes tixotrópicos para melhorar
a suspensão, solventes mais voláteis
e resinas mais reativas. Uma equalização do tamanho de partículas dos
pigmentos e do seu grau de dispersão através de aditivos de silicone, são
soluções que ajudam a evitar o
problema.
12. Véu ("Haze")
Véu é um termo geral aplicado virtualmente a
qualquer fosqueamento de uma superfície pintada e refere-se de fato a
uma ampla gama de defeitos. O véu pode ser devido a material que tenha
exsudado à superfície, pequenas erupções de solventes, rugosidade da superfície
devido à floculação ou coalescência insuficiente, acumulação de partículas
finas sobre a superfície, gotículas de água na ou próximo à superfície,
pequenas células de Bénard, micro-lacunas, etc..
Aditivos dispersantes de silicone conseguem resolver a maioria destes
casos.
13. “Casca de laranja”
A "casca de
laranja" é uma aspereza ou ondulação que lembra o aspecto rugoso da
casca de uma laranja. A "casca de
laranja" é, muitas vezes, causada por nivelamento insuficiente e é um
defeito comum, tanto em tintas aplicadas por pulverização como nas aplicadas a
rolo. A "casca de laranja"
pode ser o resultado de viscosidade elevada da película, que restringe o fluxo
e o nivelamento do filme. Pode ser, também, o resultado de movimentos
provocados por gradientes de tensão superficial. As pulverizações secas ou
solventes muito voláteis também podem contribuir à "casca de laranja". Se o problema for devido à
viscosidade muito elevada, a solução deste defeito pode ser o uso de menor
teor de sólidos, uma resina de menor peso molecular ou uma concentração menor
de pigmentos. Agentes controladores de fluidez, tais como aditivos de silicone
ou polímeros de baixa energia, podem ser eficazes na eliminação dos
movimentos induzidos por tensão superficial. Um solvente com temperatura de
destilação elevada pode promover
o nivelamento na estufa por deixar o filme aberto durante um tempo mais
prolongado.
14. “Rub-out”
O "rub-out"
refere-se à mudança de cor que resulta da fricção, com o dedo ou com uma espátula,
de uma parte da tinta aplicada. A fricção é geralmente efetuada depois do
filme ter-se assentado por alguns minutos até meia hora. 0 "rub-out"
é uma indicação da floculação e assinala a possibilidade da existência de
sérios problemas de "flooding",
"floating" ou outros,
ligados à cor. Um filme que se toma mais claro pela fricção, indica que o
pigmento branco está floculado. Um
filme que se toma mais escuro pela fricção indica que o pigmento colorido está
floculado. Como o problema é causado por uma floculação, a solução consiste
em eliminar a origem desta. Geralmente, são necessários aditivos dispersantes
e estabilizantes de pigmentos (tais
como os silicones) para resolver o problema. O uso de aditivos de silicone na
moagem dos pigmentos, além de melhorar a uniformidade aumentam
consideravelmente a capacidade de dispersão dos pigmentos
reduzindo sua aglomeração.
15. Escorrimento, cortinamento
Estes termos descrevem os movimentos provocados pela
força da gravidade que ocorrem em superfícies verticais. Este defeito é
devido a uma mobilidade excessiva (viscosidade muito baixa) e pode ocorrer
durante a aplicação ou quando a tinta é curada na estufa. O escorrimento pode
ser diminuído pelo aumento da viscosidade da tinta ou pela aplicação de
camadas de tinta mais finas.
16. Aspecto granuloso ("Seeding")
São defeitos semelhantes a pequenos grãos que
ocorrem ao acaso sobre a superfície da tinta, prejudicando o seu aspecto. Os grãos
podem ser causados por pigmento não disperso ou floculado, sujeira, partículas
de géis de resinas precipitada e glóbulos de pigmento. Deve-se a choque de
solventes, ou pela reação química entre os componentes da tinta ou impurezas
e pigmentos ativos (tais como óxido de zinco). Antes de poderem ser eliminados,
até mesmo com aditivos dispersantes, deve-se determinar cuidadosamente a sua
origem.
17.
"Silking"
O "silking"
é definido como finas irregularidades paralelas numa película de tinta
dando a impressão de seda. Este defeito é, geralmente, um caso especial de
"floating" em acabamentos aplicados por imersão ou "flow
coating". O fluxo na superfície, devido ao escoamento da tinta, faz
com que quaisquer “Células de Bénard”
formem estrias alongadas. A
separação de fases devida à floculação, incompatibilidade de resinas ou
outros componentes insolúveis (ou incompatíveis) também pode provocar estrias
na aplicação por imersão ou "flow
coating". O "silking"
resultante de “Células de Bénard” pode ser prevenido pela seleção de
pigmentos com tamanhos, densidades e grau de floculação tão próximos entre
si quanto possível, pelo aumento da viscosidade a fim de reduzir a circulação
de pigmentos e pela adição de tensoativos, tais como aditivos adequados de
silicone, que melhoram a dispersão. O "silking"
devido à incompatibilidade ou falta de solubilidade pode ser resolvido por
mudança de solventes ou substituição da resina ou outro material incompatível.
A eliminação de cargas com tamanho grande de partículas (alta granulometria),
pode resolver o "silking" em
tintas aplicadas a pincel ou rolo.
18.
Erupções de solventes ("Popping")
"Popping"
é a formação de defeitos pela evolução violenta de solvente retido, que
ocorre depois de a camada ter começado a gelificar durante o seu ciclo de cura
na estufa. As erupções de solvente ocorrem de várias formas, inclusive
buracos, crateras, covas e protuberâncias similares a um vulcão. Muitas destas
erupções estão cobertas por um domo transparente, bolhas que não puderam
estourar ou escapar, e que foram curadas. Algumas vezes as erupções são
confundidas com "seeding". O
defeito pode ser eliminado pelo aumento do tempo de ''
flash-off', escalonamento do aquecimento do material pintado, pelo uso de
solventes menos voláteis ou retardamento da velocidade de cura do revestimento.
Aditivos de silicone promotores de secagem produzem excelentes efeitos.
19. "Telegraphing"
Este defeito manifesta-se pela exibição de características
superficiais ou estruturais da peça pintada ou do substrato através da camada,
depois de curada. Algumas vezes a "transparência" de impressões
digitais, manchas de água ou marcas de lixa do substrato também é chamada de "telegraphing",
mas estes defeitos costumam ser manifestações de retração. O "telegraphing"
é normalmente causado por gradientes de tensão superficial, originados por
gradientes de temperatura ou de concentração na peça ou no substrato. Os
silicones são os mais eficazes na redução dos gradientes de tensão
superficial e para a redução do "telegraphing".
O aumento de viscosidade da tinta também é um meio eficaz de reduzir o
problema. Em muitos aspectos, bordas espessas ou emolduramento estão
relacionadas com o "telegraphing".
Por isto, este problema pode ser solucionado com muitos dos remédios indicados
para o emolduramento.
20. Manchamento por
água
O
manchamento por água é a mudança de aspecto da superfície resultante da ação
de água sobre a película de tinta ou o substrato. O defeito pode apresentar-se
na forma de pontos desbotados, anéis ou áreas de menor brilho. O manchamento
também é causado pela sensibilidade da tinta à água, apesar de o defeito
poder ser causado por material dissolvido, que precipita à medida que a água
evapora. Apesar das manchas serem mais visíveis sobre superfícies brilhantes,
o efeito pode originar-se de depósitos no substrato ou na tinta de fundo, várias
camadas abaixo do acabamento. Para consertar o manchamento por água toma-se
necessário um bom diagnóstico do problema. Se a causa for solvente hidrófilo
retido, use solvente mais hidrofóbico. Se a camada estiver sub-curada, aumente
o tempo de cura, ou a temperatura de cura, ou nível de catalisador, etc..
Por Eng. Quím. Alvaro de Assis
Jr.
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